Semana passada um
amigo me desafiou a escrever algo que falasse mais de perto aos símplices, algo
que fosse mais pastoral e menos teológico, e eu resolvi aceitar. Durante os
dias pensei em várias coisas, sem muito sucesso, até que, nesse domingo, me
deparei com o texto que chamamos de Sermão da Montanha (ou do Monte) e, como se
nunca o tivesse lido antes, fiquei encantado com sua mensagem Meu coração disse
- É sobre ele que quero falar. Na verdade, fiquei tão emocionado, que resolvi
escrever uma série de textos sobre ele, e espero que os tais façam sentido para
qualquer que quiser beber dessa rica fonte.
Nesse primeiro texto
farei apenas uma pequena introdução, buscando quebrar algumas correntes que
impedem as pessoas de desfrutar com mais leveza das palavras do Mestre. Tentarei
mostrar que há muita coisa por trás do texto seco e que faz desse sermão uma
trilha iluminada para todos os que querem seguir pelo caminho do bem e do amor.
Isso por que, acredito que o Sermão da Montanha é, antes de tudo, uma resposta
à vida. É Jesus, que preferindo a resposta das crianças, nos devolveu a
sanidade, para que hoje possamos ter uma caminhada existencial e religiosa mais
viva e bonita.
Por isso, na perspectiva
do sermão, a pergunta principal não é se as leis judaicas faziam sentido ou
não, mas o quanto de estrago a religião estava causando quando, para manter o
controle sobre as pessoas, levavam às últimas consequências regras e doutrinas
que, apesar de “bíblicas”, já não geravam vida, humanidade ou amor.
Faz sentido, portanto,
que Jesus, no início dos argumentos, comece sempre com a expressão “ouviste o
que foi dito aos antigos”, e não com algo como “ouviste o que Deus disse aos antigos”. Aliás, é
curioso como essa expressão se parece muito com outras que os profetas usavam
para falar da religiosidade. Isaias por exemplo, em nome de Deus, questiona
todo o cerimonial sagrado dado a Moisés: “Estou cansado de tanta religião, de
tanta religião” (Is I:14, versão “a mensagem”); e dá um “novo mandamento”: “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o
oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” (Is I:17).
Insisto na pergunta,
o quanto daquilo que acreditamos que é uma verdade inegociável, e, pior, acabamos
por impor as pessoas como único caminho para uma vida cristã, não passa apenas
de uma mera expressão da nossa
religiosidade, da nossa fé? Quanto
do nosso sofrimento, e do sofrimento das pessoas que nos rodeiam, incluindo as que
dizemos amar, não é fruto de um peso religioso que Jesus nunca nos deu? Algo
que Ele facilmente chamaria de “aquilo que foi dito aos antigos”.
Por isso afirmo, se
você quer entender esse sermão você precisa antes entender que ele representa
uma “virada de chave”. Uma nova forma de expressar verdades que não haviam sido
percebidas antes. Você precisa compreender que o Sermão da Montanha é um “esforço”
de Jesus em dar um novo significado a antigas tradições e dogmas que, nas mãos
dos lideres religiosos, estavam amarrando a vida das pessoas, transformando-as
em “ovelhas sem pastor”. Algo, aliás, que ocorre até hoje. Que pode estar
acontecendo com você e sua família.
Você precisa
entender que, partindo desse sermão, Jesus condena veementemente qualquer tipo
de religiosidade que não preserve a vida, a justiça e a caridade. Chama de hipócrita
uma religião que se preocupa mais com ritos e disciplina eclesiástica do que
com integridade e compaixão. Chama de conversão nossa luta diária em destronar
da nossa vida os processos geradores de morte e as engrenagens que nos tornam
impiedosos e arrogantes. Proclama como verdade a mensagem que nos impede de ter
asco da vida, como se ela fosse um estorvo, mergulhada na depravação total, e que
caso, não receba as “verdades” evangélicas, tem como destino fatal ser jogada por
Deus na lata do lixo.
Você precisa
entender que, o que Jesus chama de vida cristã não é essa rotina plástica e
artificial dos cultos dominicais, mas sim tudo aquilo que te faz crer na
possibilidade da beleza e do afeto entre os seres humanos. “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos,
se vos amardes uns aos outros”
(João 13:35). Por isso, na esperança por dias em que essa
mensagem faça morada nos corações dos homens, junto a minha voz a do pastor Ricardo
Gondim:
“Anseio
ver emergir uma nova comunidade cristã sem ufanismo. Desejo testemunhar os
crentes vivendo de forma singela, procurando vestir os nus, visitando os
enfermos, alimentando os famintos e anunciando aos pobres que chegou o Reino de
Deus.”
E é assim que
precisamos ler esse profundo sermão, como quem busca algo novo para nossa vida
e para a vida de quem convivemos. Como uma Palavra que é viva e eficaz na
humanidade de hoje.
Até o próximo texto.
William de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário