domingo, 10 de novembro de 2013

Comentários ao Sermão da Montanha

Semana passada um amigo me desafiou a escrever algo que falasse mais de perto aos símplices, algo que fosse mais pastoral e menos teológico, e eu resolvi aceitar. Durante os dias pensei em várias coisas, sem muito sucesso, até que, nesse domingo, me deparei com o texto que chamamos de Sermão da Montanha (ou do Monte) e, como se nunca o tivesse lido antes, fiquei encantado com sua mensagem Meu coração disse - É sobre ele que quero falar. Na verdade, fiquei tão emocionado, que resolvi escrever uma série de textos sobre ele, e espero que os tais façam sentido para qualquer que quiser beber dessa rica fonte.

Nesse primeiro texto farei apenas uma pequena introdução, buscando quebrar algumas correntes que impedem as pessoas de desfrutar com mais leveza das palavras do Mestre. Tentarei mostrar que há muita coisa por trás do texto seco e que faz desse sermão uma trilha iluminada para todos os que querem seguir pelo caminho do bem e do amor. Isso por que, acredito que o Sermão da Montanha é, antes de tudo, uma resposta à vida. É Jesus, que preferindo a resposta das crianças, nos devolveu a sanidade, para que hoje possamos ter uma caminhada existencial e religiosa mais viva e bonita.

Por isso, na perspectiva do sermão, a pergunta principal não é se as leis judaicas faziam sentido ou não, mas o quanto de estrago a religião estava causando quando, para manter o controle sobre as pessoas, levavam às últimas consequências regras e doutrinas que, apesar de “bíblicas”, já não geravam vida, humanidade ou amor.

Faz sentido, portanto, que Jesus, no início dos argumentos, comece sempre com a expressão “ouviste o que foi dito aos antigos”, e não com algo como “ouviste o que Deus disse aos antigos”. Aliás, é curioso como essa expressão se parece muito com outras que os profetas usavam para falar da religiosidade. Isaias por exemplo, em nome de Deus, questiona todo o cerimonial sagrado dado a Moisés: “Estou cansado de tanta religião, de tanta religião” (Is I:14, versão “a mensagem”); e dá um “novo mandamento”: Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” (Is I:17).

Insisto na pergunta, o quanto daquilo que acreditamos que é uma verdade inegociável, e, pior, acabamos por impor as pessoas como único caminho para uma vida cristã, não passa apenas de uma mera expressão da nossa religiosidade, da nossa fé? Quanto do nosso sofrimento, e do sofrimento das pessoas que nos rodeiam, incluindo as que dizemos amar, não é fruto de um peso religioso que Jesus nunca nos deu? Algo que Ele facilmente chamaria de “aquilo que foi dito aos antigos”.

Por isso afirmo, se você quer entender esse sermão você precisa antes entender que ele representa uma “virada de chave”. Uma nova forma de expressar verdades que não haviam sido percebidas antes. Você precisa compreender que o Sermão da Montanha é um “esforço” de Jesus em dar um novo significado a antigas tradições e dogmas que, nas mãos dos lideres religiosos, estavam amarrando a vida das pessoas, transformando-as em “ovelhas sem pastor”. Algo, aliás, que ocorre até hoje. Que pode estar acontecendo com você e sua família.

Você precisa entender que, partindo desse sermão, Jesus condena veementemente qualquer tipo de religiosidade que não preserve a vida, a justiça e a caridade. Chama de hipócrita uma religião que se preocupa mais com ritos e disciplina eclesiástica do que com integridade e compaixão. Chama de conversão nossa luta diária em destronar da nossa vida os processos geradores de morte e as engrenagens que nos tornam impiedosos e arrogantes. Proclama como verdade a mensagem que nos impede de ter asco da vida, como se ela fosse um estorvo, mergulhada na depravação total, e que caso, não receba as “verdades” evangélicas, tem como destino fatal ser jogada por Deus na lata do lixo.

Você precisa entender que, o que Jesus chama de vida cristã não é essa rotina plástica e artificial dos cultos dominicais, mas sim tudo aquilo que te faz crer na possibilidade da beleza e do afeto entre os seres humanos. Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35). Por isso, na esperança por dias em que essa mensagem faça morada nos corações dos homens, junto a minha voz a do pastor Ricardo Gondim:

 
“Anseio ver emergir uma nova comunidade cristã sem ufanismo. Desejo testemunhar os crentes vivendo de forma singela, procurando vestir os nus, visitando os enfermos, alimentando os famintos e anunciando aos pobres que chegou o Reino de Deus.”

E é assim que precisamos ler esse profundo sermão, como quem busca algo novo para nossa vida e para a vida de quem convivemos. Como uma Palavra que é viva e eficaz na humanidade de hoje.

Até o próximo texto.


William de Oliveira

 

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