Se existe uma palavra
que causa arrepio no meio cristão (quiça em qualquer expressão teísta) é
ateísmo. Alguém dizer que é ateísta é quase como se ele confessa-se um crime
inafiançável. Mas será que em alguns casos não seria melhor passar-se por ateu?
Será que diante de algumas expressões de fé que assistimos por aí, essa não
seria uma hipótese profundamente racional? Acredito que sim.
Nossa o William está
se rendendo ao ateísmo!! Herege!!!! Calma. Antes que alguém pense que estou
defendendo o ateísmo, não eu não estou (ainda que eu acredite que nenhum ateu
precise de defesa, eles sabem fazer isso muito bem). E nem estou me rendendo ao
ateísmo, ainda que essa possibilidade já tenha diversas vezes rondado a minha
mente (como aquele “diabinho” que fica na orelha, sabe?). Mas, para alivio
geral, eu (ainda) continuo cristão.
No entanto, e é nesse
ponto que eu quero chegar, quando eu observo o cenário religioso mundial, ainda
que com mais cuidado o tupiniquim, não dá para não pensar no ateísmo como
solução para quando te colocam no mesmo balaio dessas “coisas” que cospem
religiosidade. Um ateísmo que todo cristão sério, e que costuma usar o bom
cérebro que Deus deu, deveria pensar em ter. Uma espécie de “ateísmo cristão”
(?).
Rubem Alves é o tipo
de escritor que sempre procuro em tempos de crise e dúvida. Certa vez ele
contou que, toda vez que lhe perguntavam se acreditava em Deus, ele respondia: -
Qual deus? De que deus você está falando? Essa é uma resposta que deveria estar
na ponta da nossa língua. Por que, na verdade, cada um de nós possui um deus, bem
particular, guardado no bolso da camisa, pronto para saca-lo quando precisar. E
não duvide quando digo que esse “deus-de-bolso” é bem particular, exatamente
com a cara daquele que o carrega, e é exatamente essa a razão por que uma
resposta ateia parece bem útil. Vou dar um exemplo.
Imagine que exista um
tele evangelista operador de milagres, e que usa seu “dom” para, digamos,
ganhar um trocado (qualquer semelhança é mera coincidência). Você, que é um bom
cristão, honesto e sabe que Deus, por mais bondoso que seja, não anda por ai distribuindo
milagres aos quatro ventos, não quer ser colocado no mesmo grupo desse sujeito,
então, quando te perguntarem se você acredita em Deus, você usará do seu “ateísmo
cristão” na resposta: - Bem, depende, se
for o deus daquele tele evangelista, sem chance. Para “aquele deus” eu sou
completamente ateu. E sabe o melhor? Isso
vale não só para se livrar dessas comparações desagradáveis, como para qualquer
argumento superado (e constrangedor) da teologia fundamentalista.
Uma vez me disseram
que eu não deveria me preocupar com certos “detalhes” da nossa expressão de fé,
pois, o importante era que o evangelho estava sendo proclamado. Desculpe, mas
eu não posso concordar com isso. Nem que esses detalhes não sejam importantes,
nem que o evangelho deva ser proclamado sem critério ou sem uma pesada crítica
a quem proclama esse precioso evangelho com interesses escusos e canalhice. Pensando
bem, será que não são esses os verdadeiros ateus?
William de Oliveira
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